segunda-feira, 18 de junho de 2018

SOLENE ADVERTÊNCIA ÀQUELES QUE PROFESSAM A FÉ- Parte 1

                                                                  

por
Charles Haddon Spurgeon

Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas. (Fil. 3:18,19).
Meus queridos ouvintes. São Paulo nos oferece o modelo completo de um ministro cristão. Pastor vigilante, ele se preocupava sem cessar com o rebanho confiado a seus cuidados. Ele não se limitava a pregar o Evangelho, e não cria ter completado todo o seu dever em anunciar a salvação, mas seus olhos estavam sempre voltados às Igrejas que havia fundado, seguindo-as, com um interesse zeloso, no seu progresso ou declínio na fé. Quando ele tinha que ir proclamar o Evangelho eterno em outras regiões, ele não cessava de velar pelo bem estar espiritual de suas vibrantes colônias cristãs da Grécia e da Ásia menor, semeadas por ele em meio às trevas do paganismo; e enquanto acendia novas lâmpadas na tocha da verdade, ele não negligenciava aquelas que já flamejavam. É assim que, em nosso texto, ele dá à pequena Igreja de Filipos uma prova de sua solicitude, lhes dirigindo conselhos e advertências. E o Apóstolo não era menos fiel que vigilante. Quando via pecado na Igreja, não hesitava em denunciá-lo. Ele não lembrava a maioria dos pregadores modernos, que se vangloriam de não ter jamais tido uma relação pessoal com seu rebanho ou jamais ter incomodado suas consciências, e que põem sua glória naquilo que é enganoso; porque tivessem eles sido fiéis, tivessem exposto sem impureza todo o conselho de Deus, teriam infalivelmente, uma vez ou outra, ferido a consciência de seus ouvintes.
Paulo agia totalmente diferente: ele não temia atacar frontalmente o pecador, e não somente tinha a coragem de declarar a verdade, mas sabia da necessidade de insistir sobre esta verdade: "Repetidas vezes eu vos dizia, e eu vos digo ainda, que muitos entre vós são inimigos da cruz de Cristo”.
Mas se, por uma parte o apóstolo era fiel, por outra ele era cheio de afeto. Como todo ministro de Cristo deveria fazer, ele amava verdadeiramente as almas sob seu encargo. Se ele não podia admitir que algum membro das Igrejas colocadas sob sua direção se desviasse da verdade, não podia mais ainda lhes repreender sem derramar lágrimas. Ele não sabia brandir a ira com o olho seco, nem denunciar os juízos de Deus de maneira fria e indiferente.
As lágrimas brotavam de seus olhos, enquanto que sua boca pronunciava as mais terríveis ameaças; e quando censurava, seu coração batia tão forte de compaixão e amor, que aqueles a quem ele se dirigia não podiam duvidar da afeição com que suas censuras eram ditadas: “Eu, repetidas vezes vos dizia, e agora vos digo até chorando”.
Meus amados. A advertência solene que Paulo, outrora, dirigiu aos Filipenses nas palavras de meu texto, eu as dirijo a vocês hoje, para que entendam.
Temo que esta advertência não seja menos necessária em nossos dias que nos tempos do Apóstolo, porque em nossos dias como nos dias do Apóstolo, há vários na Igreja cuja conduta testemunha fortemente que são inimigos da cruz de Cristo. Que posso dizer? O mal, longe de diminuir, me parece ganhar terreno a cada dia. Há, em nosso século, um maior número de pessoas que fazem profissão de fé que no tempo de Paulo, mas há também mais hipócritas.
Nossas Igrejas, eu lhes digo para sua vergonha, toleram em seu seio membros que não têm nenhum direito a este título; membros que estariam bem melhor se postos em uma sala de festim, ou em qualquer outro lugar de dissolução e loucura, mas que jamais deveriam molhar os lábios no cálice sacramental ou comer o pão místico, emblemas dos sofrimentos de nosso Senhor. Sim, em vão procurariam dissimular que há vários entre nós – (e se tu voltasses à vida, ó Paulo. Quanto não te sentirias apressado em nos dizer, e quantas lágrimas amargas não derramarias ao nos dizer!...) – que são inimigos da cruz de Cristo, e isto porque o deus deles é o ventre, porque eles dirigem suas afeições às coisas da terra, e sua conduta está em completo desacordo com a santa lei de Deus.
Eu me proponho, meus irmãos, a procurar com vocês a causa da dor extraordinária do Apóstolo. Eu digo: dor extraordinária, porque o homem que meu texto apresenta como derramando lágrimas, não era, vocês sabem, um desses espíritos fracos, de sensibilidade doentia e sempre perto de se emocionar. Eu não li em nenhuma parte nas Escrituras que o Apóstolo chorasse sob o golpe da perseguição. Quando, segundo a expressão do salmista, se traçavam sulcos sobre seu dorso, quando os soldados romanos o lancetavam com suas varas, não sei de nenhuma lágrima que tenha escapado de seus olhos. Foi ele jogado na prisão? Ele cantava e não gemia. Mas, se jamais Paulo chorou por causa dos sofrimentos aos quais se expôs por amor a Cristo, ele chorou, nós vimos, ao escrever aos Filipenses. A causa de suas lágrimas era tripla: ele chorava, primeiramente, por causa DO PECADO de alguns membros da Igreja; em segundo lugar, por causa DOS EFEITOS DESAGRADÁVEIS DA CONDUTA DELES, e enfim, por causa do DESTINO que lhes esperava.
I
Primeiramente, nos foi dito, Paulo chorava por causa do PECADO destes formalistas que, ainda que façam parte exteriormente de uma Igreja cristã, não andam corretamente diante de Deus e dos homens. E notem a acusação que ele faz contra eles: o Deus deles é o ventre, escreve ele. Sua sensualidade.
Este é o primeiro pecado que eles têm, do Apóstolo, sua reprovação.
Havia, de fato, na Igreja primitiva, pessoas que após terem sentado junto à mesa do Senhor, iam participar dos banquetes dos pagãos, e lá se davam sem constrangimento aos excessos de comida e bebida. Outros, se abandonando às abomináveis concupiscências da carne, mergulhavam nesses prazeres (falsamente assim chamados), que não somente fazem perder a alma, mas afligem o corpo com justo castigo. Outros ainda, sem cair em tão vergonhosos excessos, se preocupavam muito mais com a aparência exterior que a interior, do alimento do homem exterior que da vida do homem interior; de sorte que, como os precedentes, ainda que de outra maneira, eles faziam do ventre o seu Deus.
Assim, meus queridos ouvintes, eu lhes pergunto, esta grave reprovação do Apóstolo é, para nós, menos aplicável que à Igreja de Filipos? Seria impossível encontrar entre os membros de nossos rebanhos, pessoas que deifiquem, de algum modo, sua própria carne, que se entreguem a ela num culto idólatra, que se inclinem diante da parte mais material de seu ser?
Não é notório, não é incontestável, ao contrário, que há homens fazendo profissão de fé, que cuidam da sua carne, que acariciam seus apetites sensuais, tanto quanto os mundanos declarados poderiam fazer?
Não há aqueles que são amantes dos prazeres da mesa, que se deleitam em seu bem estar, no luxo, nas luxúrias da vida presente? Não há quem gaste, sem escrúpulos, toda uma fortuna para embelezar o corpo que perece, sem refletir que agindo assim, eles destroem a beleza da causa do Salvador que eles pretendem servir? Não há aqueles cujo negócio da sua vida consiste em procurar seu bem estar, e cuja carne e sangue jamais tiveram ocasião de lastimar, porque não somente são escravos, mas ainda fazem disso seu Deus?
Ah, meus irmãos, há grandes manchas na Igreja, há grandes escândalos.
Ovelhas viciadas foram introduzidas no rebanho. Falsos irmãos introduziram-se entre nós, como serpentes sob a erva; e cada vez mais se descobre que eles têm infligido uma dolorosa ferida na religião e ocasionado sério dano à gloriosa causa de nosso Mestre. Eu repito com profunda tristeza, mas com plena convicção, há vários em nossas Igrejas (falo igualmente das Igrejas dissidentes e da Igreja estabelecida) – Spurgeon, ele mesmo pertencia a uma Igreja dissidente – aos quais se aplicam muito bem estas severas palavras do Apóstolo: o Deus deles é o ventre.
Uma segunda reprovação que Paulo dirigiu aos pretensos cristãos de Filipos, era a que eles se apegavam afetivamente às coisas da terra.
Meus amados; pode ser que a acusação anterior não tenha atingido suas consciências; mas, a presente, me parece bem difícil que dela vocês possam encontrar um escape. Há mais: afirmo que o mal assinalado aqui pelo Apóstolo, tem invadido em nossos dias a maior parte da Igreja de Cristo.
Para se convencer, basta abrir os olhos à evidência.
Assim, por exemplo, é uma anomalia, mas é fato que hoje existem cristãos ambiciosos. O Salvador declarou, é verdade, que aquele que quer ser elevado deve se diminuir; também, se pensava outrora, que o cristão era um homem simples, modesto, acostumado às pequenas coisas; mas em nosso século ele não é mais assim.
Entre os pretensos discípulos do humilde Galileu, há, ao contrário, gente que aspira conseguir a primeira escala das grandezas humanas, e cujo único pensamento é, não glorificar a Cristo, mas de se glorificar a si mesmo e a qualquer preço.
É assim, (para sua vergonha, ó Igreja) que há em entre nós, pessoas que mesmo tendo aparência de piedade, não são menos mundanas que os mais mundanos, e que não sabem mais sobre o Espírito de Cristo, que os homens mais carnais de fora.
 

Pr. Carlos Borges(CABB)

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