segunda-feira, 25 de junho de 2018

SOLENE ADVERTÊNCIAS ÀQUELES QUE PROFESSAM A FÉ - PARTE 2


É assim, igualmente, que há cristãos avarentos. Sem dúvida, isso é ainda um paradoxo: valeria mais falar, me parece, da mancha nos serafins ou da imperfeição da perfeição, que da avareza de um discípulo de Jesus; e, no entanto (eu chamo a cada um dos que me ouvem), não encontramos todos os dias aqueles que se dizem cristãos, cujo cordão da bolsa dificilmente se desamarra ao grito de um pobre, que maquia seu amor ao dinheiro com o nome de prudência, e que, em vez de colocar seus bens em benefício do reino de Cristo, só pensa em granjeá-los? Eu vou mais longe, e digo que se queremos encontrar homens inflexíveis em seus negócios, ávidos em ficar ricos, duros para com seus credores, homens sórdidos, desleais, os quais, a exemplo dos fariseus de outrora, não têm escrúpulos em devorar as casas das viúvas, eu digo que se queremos encontrar tais homens, é freqüentemente no seio de nossas Igrejas que devemos procurá-los. Meus irmãos, esta confissão, eu enrubesço ao fazê-la, mas eu devo, porque é a verdade.
Sim, entre os membros mais considerados de nossos rebanhos, mesmo entre aqueles que ocupam cargos eclesiásticos, vocês encontrarão quem fixe suas afeições às coisas da terra, e que não possuem absolutamente nada desta vida escondida com Cristo em Deus, sem a qual não existe verdadeira piedade.
Preciso acrescentar mais? Estes grandes malefícios não são os frutos de uma religião sã, mas antes, aqueles de um formalismo vão. Deus seja louvado, o remanescente eleito é preservado dessas funestas tendências, mas a massa dos cristãos nominais que invadiram nossas Igrejas, foi atingida de uma maneira deplorável.
Um último traço pelo qual o Apóstolo caracteriza os falsos irmãos de Filipos é este: Eles põem sua glória naquilo que é enganoso. É isso, com efeito, uma disposição natural do formalista. Ele tira vaidade de seus próprios pecados; mais ainda: ele os chama de virtudes. Sua hipocrisia ele chama de retidão; seu falso zelo, de fervor. Os sutis venenos de Satanás, ele os reveste da etiqueta dos santos remédios de Cristo. O que ele chama de vício nos outros, nele mesmo ele considera como qualidade. Se ele vê seu próximo cometer a mesma ação que ele está acostumado a cometer, se a vida daquele mostra a imagem perfeita da sua própria vida, oh! Como ele se volta contra seu próximo! Sua presteza em cuidar dos deveres exteriores da religião é exemplar; ele é o mais estrito dos sabatistas, o mais escrupuloso dos fariseus, o mais austero dos devotos. Ele cuida de realçar a menor fraqueza na conduta do outro; ninguém o ultrapassa em habilidade; e enquanto ele acaricia à vontade seu pecado favorito, ele olha as faltas de seus irmãos através de uma lente de aumento. Quanto à sua própria conduta, ela não diz respeito a ninguém. Ele pode pecar impunemente; e se seu pastor, por acaso, lhe faz alguma observação, ele se indigna e o acusa de calúnia. As observações, não mais que as advertências, jamais o atingem. Não é ele um membro de Igreja? Não cumpre ele, exatamente, os ritos e as ordenanças? Quem ousaria colocar em dúvida sua piedade? Oh! Meus irmãos, meus irmãos, não façam, pura ilusão! Muitos pretensos membros de Igreja serão um dia membros do inferno. Muitos homens admitidos em uma, ou outra, de nossas comunidades cristãs, que receberam a água do batismo, que se aproximam de nossa mesa sagrada, que talvez, mesmo, tenham a reputação de estarem vivos, não estão menos mortos, em relação ao espiritual, que os cadáveres em seus sepulcros.
Hoje em dia é fácil se fazer passar por um filho de Deus! No lugar da renúncia, do amor por Cristo, da mortificação da carne, o pouco que se exige é aprender alguns cânticos, aprender algumas banalidades piedosas, algumas frases convencionadas, e vocês se imporão, mesmo aos eleitos. Filiem-se a uma Igreja qualquer; mostrem uma conduta exterior, de tal sorte que lhes possam considerar respeitável, e se vocês não conseguirem enganar os mais lúcidos, ao menos terão uma reputação de piedade bem estabelecida para lhes permitir andar com o coração aliviado e a consciência à vontade, no caminho da perdição.
Eu sei, meus amados, que eu digo coisas duras, mas são coisas verdadeiras; por isso não posso calar. Meu sangue borbulha algumas vezes em minhas veias, quando encontro homens cuja conduta me dá vergonha, ao lado de quem eu ousaria apenas me sentar, e que, no entanto, me tratam, com convicção, de "Irmão". O quê? Eles vivem no pecado, e chamam um cristão de irmão! Oro a Deus que lhes perdoe seu desvio de conduta; mas eu declaro - eu não posso de jeito algum me confraternizar com eles, e nem quero, até que se conduzam de uma maneira digna de sua vocação.
Certamente, todo o homem que faz de seu ventre um Deus e que põe sua glória naquilo que é enganoso, é completamente culpado; mas quando esse homem se veste com a roupa da religião, quando conhece a verdade, a qual ele ensina como necessária, faz abertamente profissão de ser um servo de Cristo, quanto mais culpado é ele! Vocês conseguem conceber, meus irmãos, um crime mais atroz que aquele do hipócrita audacioso que, mentindo a Deus e à sua consciência, declara solenemente que pertence ao Senhor e que o Senhor lhe pertence, depois vai viver como vive o mundo, anda seguindo o curso do presente século, comete as mesmas injustiças, persegue os mesmos objetivos, usa dos mesmos meios que aqueles que não são chamados pelo nome de Cristo?
Ah! Se houvesse nesta assembleia alguém que devesse confessar que este é o seu pecado; que chore, sim, que chore lágrimas de sangue, porque a enormidade de seu crime é maior do que poderíamos dizer!

II

Mas se o Apóstolo chorava, como acabamos de ver, por causa do pecado desses homens que tinham de cristão somente o nome, ele chorava mais ainda, talvez, por causa DOS DESGRADÁVEIS EFEITOS DE SUA CONDUTA, porque ele acrescenta esta palavra tão enérgica de forma breve: eles são inimigos da cruz de Cristo. Sim, tu dizes a verdade, ó Paulo! Sem dúvida, o cético, o incrédulo, são inimigos da cruz de seu Mestre; o blasfemador, o profano, o sanguinário Herodes, estes são também; mas os inimigos por excelência desta cruz santa, os soldados de elite do exército de Satanás, são estes cristãos fariseus, caiados por fora de uma aparência de piedade, mas cheios por dentro de toda a sorte de podridão.
Oh! Parece-me que, a exemplo do Apóstolo, todo o filho de Deus deveria derramar lágrimas ardentes, ao pensar que os mais duros golpes contra o Evangelho vêm daqueles que se dizem discípulos. Parece-me que deveria sentir uma dor nunca antes experimentada, ao ver Jesus ferido cada dia por aqueles que pretendem ser dele.
Vejam! Eis aqui meu Salvador que se adianta, os pés e as mãos ensangüentados... Oh! Meu Jesus, meu Jesus! Quem tem feito, de novo, teu sangue verter? Que significam essas feridas? Por que tu tens teu aspecto tão triste? "Eu fui ferido, responde ele, e onde você pensa que eu recebi o golpe?" – Certamente, Senhor, tu foste ferido na casa da intemperança ou da devassidão, tu foste ferido no banco dos escarnecedores ou na assembléia dos ímpios. "Não, diz Jesus, eu fui ferido na casa de meus amigos (Zc. 8:6); estas feridas me foram feitas pelos homens que levam meu nome, se assentam em minha mesa e falam minha língua. Estes são aqueles que me furaram, que me crucificaram de novo, que me lançaram à ignomínia..."
Ferir a Cristo e lançá-lo à ignomínia. Em tudo fazendo profissão de lhe pertencer! Não lhes parece, meus caros ouvintes, que um pecado tão odioso não deveria existir? Entretanto, infelizmente, é mais comum do que pensamos.
A história conta que César, expirando sob os golpes de seus assassinos, só percebeu que estava perdendo seu império, quando viu seu amigo Brutus adiantar-se para lhe dar o golpe. "Até tu, Brutus!" gritou então, e se cobrindo com sua túnica, chorou. Da mesma maneira, meus amigos, se Cristo aparecesse no meio desta assembleia, não poderia dizer a vários de vocês, escondendo a face de tristeza, ou antes, fazendo ouvir sua justa indignação: "E você, que te introduziste em minha Igreja, e você que dizes ser meu discípulo, me estapeias também?...". Se devo ser vencido na batalha, que sejam meus opositores que me vençam, mas meus aliados que ao menos não me traiam. Se a cidadela, que estou pronto a defender até meu último suspiro, deve ser tomada, que o inimigo entre marchando sobre o meu cadáver, mas, ainda uma vez, que meus amigos não me traiam. Ah! Se o soldado que combate a meu lado me vendesse a meus adversários, meu coração seria duas vezes quebrado; primeiro, pela derrota, e em seguida pela traição.
Quando das guerras religiosas que nossos irmãos suíços travaram para manter sua liberdade, um punhado de protestantes defendia valentemente um desfiladeiro contra uma corporação considerável do exército. Ainda que eles vissem seus irmãos, seus amigos, caírem a seu lado, ainda que eles mesmos se sentissem esgotados e prestes a desfalecer, eles não combatiam menos, mas com uma intrepidez heroica. Mas de repente, um grito se fez ouvir, um grito agudo, um grito terrível! O inimigo escalou uma protuberância, e ia cercar a pequena companhia dos reformados. Percebendo isto, seu chefe tremeu de indignação, rangeu os dentes, bateu os pés, porque ele compreendeu que um traidor, que um protestante covarde devia ter vendido seus irmãos a seus implacáveis inimigos. Voltando-se, então, em direção à sua gente, gritou: "Avante!" Com um tom de quem nada mais espera. E como os leões que saltam sobre sua presa, aqueles bravos se lançaram diante de seus inimigos, prontos, agora, a morrer, depois que um deles lhes havia traído.
Meus irmãos, um sentimento desta natureza que se espera de um corajoso soldado da cruz, quando ele vê um de seus companheiros de serviço desonrar a bandeira de seu divino Chefe e trair sua santa causa. De minha parte, não hesito em lhes dizer, que o que eu temo não são os inimigos declarados, 

Pr. Carlos Borges(CABB)

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