A MULHER CANANEIA
Introdução: Jesus
anda em território pagão, perto de Tiro e Sidom. Nesse lugar é normal
encontrar-se uma mulher "Cananeia". Ela mora numa região de pagãos.
Eles não são semitas, não são israelitas nem seguem a religião judaica. Mas ela
chama Jesus de "Filho de Davi", que é o título messiânico israelita
por excelência. Podemos pensar que ela está tão profundamente angustiada que se
humilha até invocar o Messias dos israelitas. "E partindo dali foi para a
Região de Tiro…" (7,24a).
Mt. 15.21-28. 21 E,
partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de Sidom. 22 E
eis que uma mulher Cananeia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo:
Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está
miseravelmente endemoninhada. 23 Mas ele não lhe respondeu
palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo:
Despede-a, que vem gritando atrás de nós. 24 E
ele, respondendo, disse: Eu
não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. 25 Então, chegou ela e
adorou-o, dizendo: Senhor socorre-me. 26 Ele, porém, respondendo,
disse: Não é bom pegar o pão dos
filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. 27 E
ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem
da mesa dos seus senhores. 28 Então, respondeu Jesus e
disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé. Seja isso feito para
contigo, como tu desejas. E,
desde aquela hora, a sua filha ficou sã.
I ASPECTO DO MILAGRE
1-Uma mulher
anônima (Mt. 15.22a).
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No Evangelho de Marcos7. 26, a origem
sírio-fenícia dessa mulher foi citada, para precisar o território de sua
procedência, que fica a noroeste da Galileia.
·
É nessa região que está situada as cidades de
Tiro e Sidon.
·
Mas no livro de Mateus a designa por Cananeia, a
fim de indicar sua condição de gentia.
·
Os leitores judeus deste Evangelho entenderam imediatamente
o que significa Jesus ter ajudado a essa mulher.
·
Mateus descreve com muito mais detalhes o
gradativo clamor da mulher e as diferentes reações de Jesus e dos discípulos.
·
Nesse
lugar é normal encontrar-se uma mulher "Cananeia".
·
Ela mora numa região de pagãos.
·
Eles não
são semitas, não são israelitas nem seguem a religião judaica.
·
Mas ela chama Jesus de "Filho de
Davi", que é o título messiânico israelita por excelência.
2-Um clamor urgente
(Mt. 15,22b).
·
O grito da mulher pede a compaixão de Jesus
reconhecido como Filho de Davi.
·
Ao seu clamor que expressa à solidariedade
entre mãe e filha, Jesus fica em silêncio e nada responde (Mt 15, 23).
·
Será indiferença ou presença silenciosa e
reflexiva?
·
O
silêncio também faz parte da aproximação para um verdadeiro encontro, quando as
diferenças são muito grandes.
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Os discípulos ficam bravos com a mulher.
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Querem afastar o grito porque ele incomoda:
"Despede-a, porque vem gritando atrás de nós" (Mt 15,23).
·
Eles
querem que Jesus mande-a embora para que não os incomode mais.
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Jesus parece pensar em voz alta e Mateus coloca
em sua boca a mentalidade dos judeus da época, através de uma compreensão
exclusivista da missão: "Eu não fui enviado senão para as ovelhas perdidas
de Israel" (Mt 15, 24).
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Diante da insistência do grito da mulher, a
resposta de Jesus é muito dura e difícil de entender.
3-Uma libertação Especial (Mt. 15.8).
·
Vem
então à segunda reação de Jesus, ríspida, demarcatória, ortodoxa, poder-se-ia
dizer: “Não fui enviado senão às ovelhas
perdidas da casa de Israel” (v. 24).
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É
duro ouvir essas palavras, mas ao menos é uma resposta.
·
Melhor
assim do que o silêncio da não resposta.
·
Aqui
no texto de Mateus, diferente do que em Marcos, não se fala de uma
interpretação tipo “primeiro para Israel
e depois para os gentios”.
·
Mateus enfatiza que Jesus veio para os
perdidos de Israel.
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A perspectiva universal da vinda de Jesus vem
mais tarde.
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Aqui impera a exclusividade.
·
O
Messias veio exclusivamente para salvar Israel, e nele as ovelhas perdidas.
·
Isto é assim, ao menos até Jesus defrontar-se
com uma mulher que ousou questioná-lo nos seus próprios termos.
·
“Ó mulher, grande é a tua fé!” (v.
28).
·
A
fé demonstrada por essa mulher é a fé que agrada a Jesus. Por isso, ele pode
dizer, em seguida: “Faça-se contigo como
queres”.
II O QUE REVELA SOBRE JESUS
1-Ele é o Messias (Mt. 15.22).
·
Um
pequeno brilho do Evangelho certamente se faz presente nessas ocasiões.
·
Mas
o Evangelho é mais do que palmas, curas e aleluias.
·
Esse texto é muito importante justamente
porque nos leva a desmistificar uma pregação utilitarista da fé bíblica.
·
Aqui
não temos solução fácil para o desespero de uma mãe que vê a filhinha definhar
sem que encontre ajuda ou socorro.
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No
seu desespero, a mulher ouve acerca de Jesus e vai ao seu encontro.
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E o que encontra? Silêncio, má vontade,
rejeição do grupo, olhares cheios de preconceito e reprovação.
·
E o
que ela faz? Simplesmente não desiste.
·
Se
esse homem é de Deus, vai ter que me ouvir.
·
E clama, corre atrás, ajoelha-se, grita por
socorro.
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Não consegue muita coisa. Depois de muito
clamar, Jesus acaba lhe dando uma resposta.
2-Sua agenda é flexível (Mt.
15.24).
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Os
de fora, os sem-direito à mesa, os estranhos também desejam partilhar do pouco
que sobra da refeição principal.
·
Também
os de fora, os sem-direito, os estranhos podem desfrutar da misericórdia de
Deus.
·
E
Jesus descobriu isso no encontro com essa mulher.
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No encontro com o centurião romano (Mt 8.10),
ele já se surpreendera com a grandiosidade da fé de um não judeu.
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Agora
foi a vez da mulher Cananéia.
·
E neste caso, foi um encontro tenso, bem
diferente daquele outro.
·
Uma
mulher desafia a palavra do mestre, e este reconhece a estreiteza de sua visão.
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Grande
é a tua fé, ó mulher! Mas a mulher não judia questiona tanta exclusividade.
·
Por
que não podem os cachorrinhos ao menos comer um pouco do que sobra, dos restos
que caem da mesa dos donos?
·
Os
de fora, os sem-direito à mesa, os estranhos também desejam partilhar do pouco
que sobra da refeição principal.
·
Nessa
resposta e no seu desdobramento nas palavras de Jesus encontramos um momento
alto da universalidade do Evangelho.
·
Também os de fora, os sem-direito, os
estranhos podem desfrutar da misericórdia de Deus.
3- Ele não se esconde (Mt.
15.23).
·
É
triste quando certas teologias ou práticas religiosas procuram reduzir a fé a
certos esquemas, respostas prontas, modelos fechados, apelos programados e auto
convincentes. Por algum tempo, isso funciona.
·
Mas
vem a hora em que a verdade da vida aperta.
·
Então,
os esquemas caem, as respostas prontas desviam do alvo e os modelos fechados se
rompem.
·
Nessa hora, precisamos testar verdadeiramente
a fé que professamos.
·
A
mulher Cananéia enfrentou Jesus e encontrou silêncio e exclusão.
·
Foi necessário clamar, implorar, perseverar
até de joelhos, argumentar firme para convencê-lo a dar-lhe ouvidos.
·
Só
assim ela finalmente encontrou graça e compaixão.
·
E convém acrescentar logo: não para si, mas em
benefício de sua filhinha doente.
·
A
fé que agrada a Jesus é fé solidária! Jamais fé egoísta, tipo eu e Deus e ponto
final.
·
No
seguimento de Jesus, só cabe à fé que une ao sofredor, à sofredora.
·
Só
encontra lugar e elogio a fé que comparte o amor e a misericórdia no serviço de
amor e compaixão.
·
Jesus
nunca está escondido dos seus servos fieis o que acontece é que como no Éden,
foi o homem que se escondeu de Deus por causa do pecado, mas, temos Jesus nosso
como nosso Libertador.
III ENSINAMENTOS
1-Perseverança (Mt. 15.23)
·
A mulher Cananéia é um modelo de súplica humilde, como o
centurião de Cafarnaum (Mt 8,5-13), e perseverante, como o cego Bartimeu (Mc
10,46-52).
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O centro do episódio é Jesus.
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Ele aparece livre, sereno, firme.
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No mesmo capítulo 15 de Mateus, Jesus se distancia das tradições
dos escribas e fariseus.
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No episódio da
Cananéia, ele é pressionado pelos próprios discípulos para que despeça a mulher
importuna.
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Mas Jesus se deixa vencer pela súplica de uma mãe angustiada.
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Não são os gritos da
Cananéia que o comovem, mas a perseverança da sua fé.
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Por ser pagã, ela não teria direito, mas a sua filha foi
curada por pura graça.
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Jesus realiza um gesto soberano e profético, que anuncia o
acesso dos pagãos (chamados de “cães”, pelos judeus) à salvação.
2-Adoração (Mt. 15.25)
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Ela está aflita e precisa de ajuda. Ela pede ajuda a quem
pode ajudar.
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Ela não se conforma de ver sua filha sendo destruída.
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A sua dor a levou a Jesus. Ela viu os problemas como
oportunidades de se derramar aos pés do Salvador.
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O sofrimento pavimentou o caminho do seu encontro com
Deus. Aquela mãe transformou sua necessidade em estrada para encontrar-se
com Cristo. Transformou a necessidade em oportunidade de prostrar-se aos pés do
Senhor. Transformou o problema no altar da adoração.
3-Humildade (Mt. 15.27)
·
Porém,
a mulher não se exaspera, não perde o controle, não se rebela contra
Jesus.
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Porém,
ela se humilha diante de Jesus, como o coração quebrantado e aberto,
reconhecendo que até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa do seu
senhor.
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Em nenhum
momento aquela mulher foi orgulhosa, nem soberba.
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Ela
reconheceu que não era nada e que Jesus era tudo o que ela precisava.
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Ela
tinha uma causa a defender, uma necessidade a ser resolvida, um pedido a ser
feito.
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Ela se
recusa a ir embora de mãos vazias.
·
Mas,
também, mostra um coração humilde diante de Jesus.
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