domingo, 26 de janeiro de 2020

A MULHER CANANEIA


A MULHER CANANEIA
Introdução: Jesus anda em território pagão, perto de Tiro e Sidom. Nesse lugar é normal encontrar-se uma mulher "Cananeia". Ela mora numa região de pagãos. Eles não são semitas, não são israelitas nem seguem a religião judaica. Mas ela chama Jesus de "Filho de Davi", que é o título messiânico israelita por excelência. Podemos pensar que ela está tão profundamente angustiada que se humilha até invocar o Messias dos israelitas. "E partindo dali foi para a Região de Tiro…" (7,24a).
Mt. 15.21-28. 21 E, partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de Sidom. 22 E eis que uma mulher Cananeia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada. 23 Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós. 24 E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. 25 Então, chegou ela e adorou-o, dizendo: Senhor socorre-me. 26 Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. 27 E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. 28 Então, respondeu Jesus e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé. Seja isso feito para contigo, como tu desejas. E, desde aquela hora, a sua filha ficou sã.


I ASPECTO DO MILAGRE
1-Uma mulher anônima (Mt. 15.22a).
·        No Evangelho de Marcos7. 26, a origem sírio-fenícia dessa mulher foi citada, para precisar o território de sua procedência, que fica a noroeste da Galileia.
·        É nessa região que está situada as cidades de Tiro e Sidon.
·        Mas no livro de Mateus a designa por Cananeia, a fim de indicar sua condição de gentia.
·        Os leitores judeus deste Evangelho entenderam imediatamente o que significa Jesus ter ajudado a essa mulher.
·        Mateus descreve com muito mais detalhes o gradativo clamor da mulher e as diferentes reações de Jesus e dos discípulos.
·         Nesse lugar é normal encontrar-se uma mulher "Cananeia".
·         Ela mora numa região de pagãos.
·        Eles não são semitas, não são israelitas nem seguem a religião judaica.
·         Mas ela chama Jesus de "Filho de Davi", que é o título messiânico israelita por excelência.

2-Um clamor urgente (Mt. 15,22b).
·        O grito da mulher pede a compaixão de Jesus reconhecido como Filho de Davi.
·        Ao seu clamor que expressa à solidariedade entre mãe e filha, Jesus fica em silêncio e nada responde (Mt 15, 23).
·        Será indiferença ou presença silenciosa e reflexiva?
·         O silêncio também faz parte da aproximação para um verdadeiro encontro, quando as diferenças são muito grandes.
·        Os discípulos ficam bravos com a mulher.
·        Querem afastar o grito porque ele incomoda: "Despede-a, porque vem gritando atrás de nós" (Mt 15,23).
·         Eles querem que Jesus mande-a embora para que não os incomode mais.
·        Jesus parece pensar em voz alta e Mateus coloca em sua boca a mentalidade dos judeus da época, através de uma compreensão exclusivista da missão: "Eu não fui enviado senão para as ovelhas perdidas de Israel" (Mt 15, 24).
·        Diante da insistência do grito da mulher, a resposta de Jesus é muito dura e difícil de entender.

3-Uma libertação Especial (Mt. 15.8).
·        Vem então à segunda reação de Jesus, ríspida, demarcatória, ortodoxa, poder-se-ia dizer: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (v. 24).
·        É duro ouvir essas palavras, mas ao menos é uma resposta.
·        Melhor assim do que o silêncio da não resposta.
·        Aqui no texto de Mateus, diferente do que em Marcos, não se fala de uma interpretação tipo “primeiro para Israel e depois para os gentios”.
·         Mateus enfatiza que Jesus veio para os perdidos de Israel.
·         A perspectiva universal da vinda de Jesus vem mais tarde.
·         Aqui impera a exclusividade.
·        O Messias veio exclusivamente para salvar Israel, e nele as ovelhas perdidas.
·         Isto é assim, ao menos até Jesus defrontar-se com uma mulher que ousou questioná-lo nos seus próprios termos.
·        “Ó mulher, grande é a tua fé!” (v. 28). 
·        A fé demonstrada por essa mulher é a fé que agrada a Jesus. Por isso, ele pode dizer, em seguida: “Faça-se contigo como queres”.


II O QUE REVELA SOBRE JESUS
1-Ele é o Messias (Mt. 15.22).
·        Um pequeno brilho do Evangelho certamente se faz presente nessas ocasiões.
·        Mas o Evangelho é mais do que palmas, curas e aleluias.
·         Esse texto é muito importante justamente porque nos leva a desmistificar uma pregação utilitarista da fé bíblica.
·        Aqui não temos solução fácil para o desespero de uma mãe que vê a filhinha definhar sem que encontre ajuda ou socorro.
·        No seu desespero, a mulher ouve acerca de Jesus e vai ao seu encontro.
·         E o que encontra? Silêncio, má vontade, rejeição do grupo, olhares cheios de preconceito e reprovação.
·        E o que ela faz? Simplesmente não desiste.
·        Se esse homem é de Deus, vai ter que me ouvir.
·         E clama, corre atrás, ajoelha-se, grita por socorro.
·         Não consegue muita coisa. Depois de muito clamar, Jesus acaba lhe dando uma resposta.

2-Sua agenda é flexível (Mt. 15.24).
·        Os de fora, os sem-direito à mesa, os estranhos também desejam partilhar do pouco que sobra da refeição principal.
·        Também os de fora, os sem-direito, os estranhos podem desfrutar da misericórdia de Deus.
·        E Jesus descobriu isso no encontro com essa mulher.
·         No encontro com o centurião romano (Mt 8.10), ele já se surpreendera com a grandiosidade da fé de um não judeu.
·        Agora foi a vez da mulher Cananéia.
·         E neste caso, foi um encontro tenso, bem diferente daquele outro.
·        Uma mulher desafia a palavra do mestre, e este reconhece a estreiteza de sua visão.
·        Grande é a tua fé, ó mulher! Mas a mulher não judia questiona tanta exclusividade.
·        Por que não podem os cachorrinhos ao menos comer um pouco do que sobra, dos restos que caem da mesa dos donos?
·        Os de fora, os sem-direito à mesa, os estranhos também desejam partilhar do pouco que sobra da refeição principal.
·        Nessa resposta e no seu desdobramento nas palavras de Jesus encontramos um momento alto da universalidade do Evangelho.
·         Também os de fora, os sem-direito, os estranhos podem desfrutar da misericórdia de Deus.

3- Ele não se esconde (Mt. 15.23).
·        É triste quando certas teologias ou práticas religiosas procuram reduzir a fé a certos esquemas, respostas prontas, modelos fechados, apelos programados e auto convincentes. Por algum tempo, isso funciona.
·        Mas vem a hora em que a verdade da vida aperta.
·        Então, os esquemas caem, as respostas prontas desviam do alvo e os modelos fechados se rompem.
·         Nessa hora, precisamos testar verdadeiramente a fé que professamos.
·        A mulher Cananéia enfrentou Jesus e encontrou silêncio e exclusão.
·         Foi necessário clamar, implorar, perseverar até de joelhos, argumentar firme para convencê-lo a dar-lhe ouvidos.
·        Só assim ela finalmente encontrou graça e compaixão.
·         E convém acrescentar logo: não para si, mas em benefício de sua filhinha doente.
·        A fé que agrada a Jesus é fé solidária! Jamais fé egoísta, tipo eu e Deus e ponto final.
·        No seguimento de Jesus, só cabe à fé que une ao sofredor, à sofredora.
·        Só encontra lugar e elogio a fé que comparte o amor e a misericórdia no serviço de amor e compaixão.
·        Jesus nunca está escondido dos seus servos fieis o que acontece é que como no Éden, foi o homem que se escondeu de Deus por causa do pecado, mas, temos Jesus nosso como nosso Libertador.


III ENSINAMENTOS
1-Perseverança (Mt. 15.23)
·        A mulher Cananéia é um modelo de súplica humilde, como o centurião de Cafarnaum (Mt 8,5-13), e perseverante, como o cego Bartimeu (Mc 10,46-52).
·        O centro do episódio é Jesus.
·        Ele aparece livre, sereno, firme.
·        No mesmo capítulo 15 de Mateus, Jesus se distancia das tradições dos escribas e fariseus.
·         No episódio da Cananéia, ele é pressionado pelos próprios discípulos para que despeça a mulher importuna.
·        Mas Jesus se deixa vencer pela súplica de uma mãe angustiada.
·         Não são os gritos da Cananéia que o comovem, mas a perseverança da sua fé.
·        Por ser pagã, ela não teria direito, mas a sua filha foi curada por pura graça.
·        Jesus realiza um gesto soberano e profético, que anuncia o acesso dos pagãos (chamados de “cães”, pelos judeus) à salvação.

2-Adoração (Mt. 15.25)
·        Ela está aflita e precisa de ajuda. Ela pede ajuda a quem pode ajudar.
·        Ela não se conforma de ver sua filha sendo destruída.
·        A sua dor a levou a Jesus. Ela viu os problemas como oportunidades de se derramar aos pés do Salvador.
·        O sofrimento pavimentou o caminho do seu encontro com Deus. Aquela mãe transformou sua necessidade em estrada para encontrar-se com Cristo. Transformou a necessidade em oportunidade de prostrar-se aos pés do Senhor. Transformou o problema no altar da adoração.

3-Humildade (Mt. 15.27)
·        Porém, a mulher não se exaspera, não perde o controle, não se rebela contra Jesus. 
·        Porém, ela se humilha diante de Jesus, como o coração quebrantado e aberto, reconhecendo que até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa do seu senhor.
·        Em nenhum momento aquela mulher foi orgulhosa, nem soberba.
·        Ela reconheceu que não era nada e que Jesus era tudo o que ela precisava. 
·        Ela tinha uma causa a defender, uma necessidade a ser resolvida, um pedido a ser feito.
·        Ela se recusa a ir embora de mãos vazias.
·        Mas, também, mostra um coração humilde diante de Jesus.

            Pr. Carlos Borges (CABB)

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