pessoas a quem deu os dons ministeriais
(Ef.4:11-16), a fim de que os salvos possam se tornar verdadeiros e genuínos
discípulos do Senhor Jesus e cresçam espiritualmente, formando Cristo em cada
um deles (Gl.4:19).
- A segunda vez que vemos a palavra doutrina nas Versões Almeida é em Jó 11:4
(é importante lembrarmos que Jó seja, talvez, o livro mais antigo da Bíblia e,
portanto, a sua referência seria anterior mesmo a de Dt.32:2), que é a mesma
palavra “leqach” já mencionada. Aqui, um dos “amigos” de Jó, Zofar, acusa Jó de
dizer que a “sua” doutrina era pura e que ele se sentia limpo aos olhos de
Deus. A palavra “doutrina”, aliás, também é empregada pela Tradução Brasileira,
pela Nova Tradução na Linguagem de Hoje e pela Nova Versão Internacional. Temos
o mesmo significado do texto anterior. Embora se esteja a referir a um conjunto
de ensinos de Jó, Zofar está a considerar que o patriarca é presunçoso ao
querer dizer que seus ensinos são provenientes da parte de Deus. Doutrina
continua a ser considerada como um ensino vindo da parte de Deus, um
ensinamento com origem no céu.
- Dentro deste sentido, vemos que a doutrina não é algo que venha da Igreja,
mas algo recebido do céu para a Igreja. A Igreja é apenas a guardiã, ou seja, a
instituição destinada a guardar os ensinos divinos e a divulgá-los para os
homens. Não é a Igreja quem cria doutrinas, mas ela apenas transmite aquilo que
foi ensinado pelo Senhor Jesus e que é constantemente lembrado e anunciado pelo
Espírito Santo ao povo de Deus (Jo.14:26; 16:13-15).
- Isto se torna ainda mais evidente quando vamos ao Novo Testamento e ali
observamos que a palavra grega “didaché”, que é a palavra grega para
“doutrina”, possui um significado passivo, ou seja, em muitas ocasiões seu
significado é “o que é ensinado”, como a demonstrar que a “doutrina” não é algo
que seja criação humana, mas, sim, algo que é recebido pelo homem da parte de
Deus. A “doutrina”, portanto, não é algo que venha da imaginação ou da
mentalidade de um homem, mas, sim, única e exclusivamente aquilo que tem origem
em Deus. Não foi à toa que, no mesmo evangelho segundo Mateus, vemos a
expressão esclarecedora do Senhor: “aprendei de Mim, que sou manso e humilde de
coração e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt.11:29b).
- Este é o mesmo significado que encontramos nos outros dois evangelhos sinóticos.
Em Marcos e em Lucas, a doutrina é apresentada como o conjunto de ensinamentos
de Cristo, ensinamentos estes que causavam admiração por parte do povo, que
também sentia que era um ensino que vinha de quem tinha autoridade, ou seja, de
quem vivia aquilo que ensinava (Mc.1:27; 4:2; 11:18; Lc.4:32).
- Não é diferente no evangelho segundo João. Neste evangelho, escrito para
mostrar que Jesus é o Filho de Deus, está uma das mais importantes afirmações
bíblicas a respeito da doutrina. Interpelado sobre Seus ensinos, o Senhor Jesus
limitou-se a dizer: “…A Minha doutrina não é Minha, mas dAquele que Me enviou.
Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é
de Deus ou se Eu falo de Mim mesmo.” (Jo.7:16,17).
- Jesus mostra-nos, claramente, que a Sua doutrina outra não era senão a
doutrina do Pai. A doutrina não fala do próprio doutrinador, mas, sim, de Deus
e somente quem vivenciar a doutrina, quem nela crer e por ela viver, verá que
esta doutrina é a verdade, que esta doutrina é a vontade de Deus. A doutrina é
a manifestação da vontade de Deus para o homem. Seguir a doutrina é seguir a
vontade de Deus para o homem e é por isso que muitos se têm levantado contra a
doutrina, porque ela implica na renúncia do eu, na renúncia do ego, na renúncia
de nós mesmos, sem o que é impossível seguir a Jesus (Mt.16:24). Daí porque
Jesus foi interrogado pelo sumo sacerdote a respeito de Sua doutrina
(Jo.18:19).
- Se temos a doutrina de Cristo, se a seguimos, não podemos, portanto, ser
diferentes. A doutrina tem de ser a mesma e, neste passo, os doutrinadores não
podem querer aparecer ou dizer o que é certo ou o que é errado, como muitos têm
feito e já o faziam nos tempos apostólicos, onde já se registravam doutrinas de
homens (Mt.15:9; Mc.7:7; Cl.2:22) e até doutrinas de demônios (I Tm.4:1).
Devemos permanecer na doutrina de Cristo, pois quem não persevera nesta
doutrina não tem a Deus (II Jo.9).
- Assim como Jó, a Igreja deve reconhecer que os ensinos provêm de Deus e que,
portanto, não podemos alterá-los nem tampouco deles nos apropriarmos a ponto de
gerarmos novas doutrinas, novos ensinos. É completamente equivocado o ensino de
que a Igreja possui um “Magistério” e é capaz de gerar uma “tradição” que tem o
mesmo valor da Palavra de Deus, como defendem os romanistas e os ortodoxos.
Como grupo social, não há como deixar de verificar que as igrejas locais criam
costumes e tradições, que, para não gerar escândalo nem tropeços na vida
espiritual dos seus integrantes, devem ser observados. No entanto, tais
costumes e tradições jamais podem se equiparar à Palavra de Deus, que é a sã
doutrina, o único fundamento da Igreja, que nunca pode ser removido (I
Co.3:11). A Igreja é a coluna e firmeza da verdade, tem a missão de sustentar e
se manter na verdade, mas não é a Verdade, que é somente Cristo Jesus, seu Sumo
Pastor.
- Um dos grandes erros do povo de Israel foi edificar um conjunto de tradições
e de normas que sufocaram a Palavra de Deus (Mt.15:1-20). Jesus censurou os
judeus por causa deste comportamento, comportamento este que, lamentavelmente,
também se imiscuiu no meio daqueles que cristãos se dizem ser, a ponto de
vários segmentos da denominada Cristandade hoje terem erigido as suas tradições
e costumes ao mesmo nível da Palavra de Deus, quando não acima da própria
Palavra. Tal comportamento é exatamente o oposto do que o Senhor exige da Sua
Igreja, que é o de sustentar, acima de tudo o que há, a Palavra de Deus, a
exemplo do que faz o próprio Deus (Sl.138:2).
- Em Pv.13:14, na Versão Almeida Revista e Corrigida bem como na Almeida Fiel e
Corrigida, a palavra “doutrina” é utilizada para traduzir “torah”(תדח), palavra
que é comumente traduzida por “lei”, mas cujo significado é mais precisamente
“instrução”, “ensino”. Aqui se diz que “a doutrina do sábio” é fonte de vida
para se desviar dos laços da morte. A doutrina do sábio não é, propriamente, do
sábio, pois, como nos ensina o próprio proverbista, o temor do Senhor é o
princípio da sabedoria (Pv.9:10), no que é acompanhado pelo salmista (Sl.111:10).
Portanto, a “doutrina do sábio” outra não é senão a Palavra de Deus e só ela é
capaz de dar origem à vida e nos desviar dos laços da morte. A doutrina, como
se vê, portanto, é o próprio fator criador da vida espiritual e da sua
manutenção até o fim.
OBS: A propósito, ensina-nos Nathan Ausubel que a Bíblia, para os judeus, no
seu sentido singular de Torah, “…tem sido considerada pelos fiéis como
redentora, quando entendida como forma total de vida…” (AUSUBEL, Nathan.
Bíblia. In: A JUDAICA, v.5, p.77).
- Jesus, certa feita, disse que tinha vindo para trazer vida e vida em
abundância (Jô.10:10). Disse, também, que Ele próprio era a vida(Jo.14:6), bem
como o pão da vida(Jo.6:48).
Pr. Carlos Borges(CABB).
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