segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

PRESERVANDO A DOUTRINA-MISSÃO CONSERVADORA DA IGREJA - PARTE III

pessoas a quem deu os dons ministeriais (Ef.4:11-16), a fim de que os salvos possam se tornar verdadeiros e genuínos discípulos do Senhor Jesus e cresçam espiritualmente, formando Cristo em cada um deles (Gl.4:19).

- A segunda vez que vemos a palavra doutrina nas Versões Almeida é em Jó 11:4 (é importante lembrarmos que Jó seja, talvez, o livro mais antigo da Bíblia e, portanto, a sua referência seria anterior mesmo a de Dt.32:2), que é a mesma palavra “leqach” já mencionada. Aqui, um dos “amigos” de Jó, Zofar, acusa Jó de dizer que a “sua” doutrina era pura e que ele se sentia limpo aos olhos de Deus. A palavra “doutrina”, aliás, também é empregada pela Tradução Brasileira, pela Nova Tradução na Linguagem de Hoje e pela Nova Versão Internacional. Temos o mesmo significado do texto anterior. Embora se esteja a referir a um conjunto de ensinos de Jó, Zofar está a considerar que o patriarca é presunçoso ao querer dizer que seus ensinos são provenientes da parte de Deus. Doutrina continua a ser considerada como um ensino vindo da parte de Deus, um ensinamento com origem no céu.

- Dentro deste sentido, vemos que a doutrina não é algo que venha da Igreja, mas algo recebido do céu para a Igreja. A Igreja é apenas a guardiã, ou seja, a instituição destinada a guardar os ensinos divinos e a divulgá-los para os homens. Não é a Igreja quem cria doutrinas, mas ela apenas transmite aquilo que foi ensinado pelo Senhor Jesus e que é constantemente lembrado e anunciado pelo Espírito Santo ao povo de Deus (Jo.14:26; 16:13-15).

- Isto se torna ainda mais evidente quando vamos ao Novo Testamento e ali observamos que a palavra grega “didaché”, que é a palavra grega para “doutrina”, possui um significado passivo, ou seja, em muitas ocasiões seu significado é “o que é ensinado”, como a demonstrar que a “doutrina” não é algo que seja criação humana, mas, sim, algo que é recebido pelo homem da parte de Deus. A “doutrina”, portanto, não é algo que venha da imaginação ou da mentalidade de um homem, mas, sim, única e exclusivamente aquilo que tem origem em Deus. Não foi à toa que, no mesmo evangelho segundo Mateus, vemos a expressão esclarecedora do Senhor: “aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt.11:29b).

- Este é o mesmo significado que encontramos nos outros dois evangelhos sinóticos. Em Marcos e em Lucas, a doutrina é apresentada como o conjunto de ensinamentos de Cristo, ensinamentos estes que causavam admiração por parte do povo, que também sentia que era um ensino que vinha de quem tinha autoridade, ou seja, de quem vivia aquilo que ensinava (Mc.1:27; 4:2; 11:18; Lc.4:32).

- Não é diferente no evangelho segundo João. Neste evangelho, escrito para mostrar que Jesus é o Filho de Deus, está uma das mais importantes afirmações bíblicas a respeito da doutrina. Interpelado sobre Seus ensinos, o Senhor Jesus limitou-se a dizer: “…A Minha doutrina não é Minha, mas dAquele que Me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se Eu falo de Mim mesmo.” (Jo.7:16,17).

- Jesus mostra-nos, claramente, que a Sua doutrina outra não era senão a doutrina do Pai. A doutrina não fala do próprio doutrinador, mas, sim, de Deus e somente quem vivenciar a doutrina, quem nela crer e por ela viver, verá que esta doutrina é a verdade, que esta doutrina é a vontade de Deus. A doutrina é a manifestação da vontade de Deus para o homem. Seguir a doutrina é seguir a vontade de Deus para o homem e é por isso que muitos se têm levantado contra a doutrina, porque ela implica na renúncia do eu, na renúncia do ego, na renúncia de nós mesmos, sem o que é impossível seguir a Jesus (Mt.16:24). Daí porque Jesus foi interrogado pelo sumo sacerdote a respeito de Sua doutrina (Jo.18:19).

- Se temos a doutrina de Cristo, se a seguimos, não podemos, portanto, ser diferentes. A doutrina tem de ser a mesma e, neste passo, os doutrinadores não podem querer aparecer ou dizer o que é certo ou o que é errado, como muitos têm feito e já o faziam nos tempos apostólicos, onde já se registravam doutrinas de homens (Mt.15:9; Mc.7:7; Cl.2:22) e até doutrinas de demônios (I Tm.4:1). Devemos permanecer na doutrina de Cristo, pois quem não persevera nesta doutrina não tem a Deus (II Jo.9).

- Assim como Jó, a Igreja deve reconhecer que os ensinos provêm de Deus e que, portanto, não podemos alterá-los nem tampouco deles nos apropriarmos a ponto de gerarmos novas doutrinas, novos ensinos. É completamente equivocado o ensino de que a Igreja possui um “Magistério” e é capaz de gerar uma “tradição” que tem o mesmo valor da Palavra de Deus, como defendem os romanistas e os ortodoxos. Como grupo social, não há como deixar de verificar que as igrejas locais criam costumes e tradições, que, para não gerar escândalo nem tropeços na vida espiritual dos seus integrantes, devem ser observados. No entanto, tais costumes e tradições jamais podem se equiparar à Palavra de Deus, que é a sã doutrina, o único fundamento da Igreja, que nunca pode ser removido (I Co.3:11). A Igreja é a coluna e firmeza da verdade, tem a missão de sustentar e se manter na verdade, mas não é a Verdade, que é somente Cristo Jesus, seu Sumo Pastor.

- Um dos grandes erros do povo de Israel foi edificar um conjunto de tradições e de normas que sufocaram a Palavra de Deus (Mt.15:1-20). Jesus censurou os judeus por causa deste comportamento, comportamento este que, lamentavelmente, também se imiscuiu no meio daqueles que cristãos se dizem ser, a ponto de vários segmentos da denominada Cristandade hoje terem erigido as suas tradições e costumes ao mesmo nível da Palavra de Deus, quando não acima da própria Palavra. Tal comportamento é exatamente o oposto do que o Senhor exige da Sua Igreja, que é o de sustentar, acima de tudo o que há, a Palavra de Deus, a exemplo do que faz o próprio Deus (Sl.138:2).

- Em Pv.13:14, na Versão Almeida Revista e Corrigida bem como na Almeida Fiel e Corrigida, a palavra “doutrina” é utilizada para traduzir “torah”(תדח), palavra que é comumente traduzida por “lei”, mas cujo significado é mais precisamente “instrução”, “ensino”. Aqui se diz que “a doutrina do sábio” é fonte de vida para se desviar dos laços da morte. A doutrina do sábio não é, propriamente, do sábio, pois, como nos ensina o próprio proverbista, o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Pv.9:10), no que é acompanhado pelo salmista (Sl.111:10). Portanto, a “doutrina do sábio” outra não é senão a Palavra de Deus e só ela é capaz de dar origem à vida e nos desviar dos laços da morte. A doutrina, como se vê, portanto, é o próprio fator criador da vida espiritual e da sua manutenção até o fim.

OBS: A propósito, ensina-nos Nathan Ausubel que a Bíblia, para os judeus, no seu sentido singular de Torah, “…tem sido considerada pelos fiéis como redentora, quando entendida como forma total de vida…” (AUSUBEL, Nathan. Bíblia. In: A JUDAICA, v.5, p.77).

- Jesus, certa feita, disse que tinha vindo para trazer vida e vida em abundância (Jô.10:10). Disse, também, que Ele próprio era a vida(Jo.14:6), bem como o pão da vida(Jo.6:48).


Pr. Carlos Borges(CABB).

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