terça-feira, 30 de dezembro de 2014

PRESERVANDO A DOUTRINA-MISSÃO CONSERVADORA DA IGREJA -PARTE IV

Ao Se dizer a vida, também disse ser a verdade (Jo.14:6) e a verdade, disse em outra oportunidade, é a Palavra de Deus(Jo.17:17). Por isso, a doutrina, enquanto ensino da Palavra de Deus, só pode, mesmo, ser a fonte de vida, de modo que não tem qualquer sentido alguém vir a dizer que o estudo, o aprendizado da Palavra de Deus seja causa de morte (interpretando, fora de contexto e sem qualquer fundamento, a expressão “a letra mata” de II Co.3:6). Bem ao contrário, é a doutrina quem nos desvia dos laços de morte, pois só o conhecimento da doutrina da Palavra de Deus nos impede de sermos enganados pelas falsas doutrinas, heresias e modismos que proliferam com cada vez maior intensidade à medida que se aproxima o dia da volta de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

- A Igreja, ao ensinar a sã doutrina, portanto, está sendo motivo de vivificação dos homens, estando aí, aliás, como veremos na próxima lição, um dos elementos fundamentais para o exercício da missão dinâmica da Igreja, ou seja, da manutenção dos crentes como “pedras vivas” do edifício de Deus, do avivamento espiritual. Uma igreja local que não prioriza a doutrina é uma igreja que está se adaptando ao modelo da “igreja de Sardo”, uma igreja que tem nome de que vive, mas que está morta, pois sem doutrina, não há possibilidade de vida espiritual (Ap.3:1).

- Em Pv.16:23, a Versão Almeida Revista e Corrigida utiliza a palavra “doutrina”, que é a mesma palavra hebraica “leqach”. Entretanto, tal versão ficou isolada nesta tradução, pois a Versão Atualizada traduziu o termo por “persuasão”, a Fiel e Corrigida por “ensino” e a Edição Contemporânea por “instrução”. De qualquer modo, em que pese o isolamento da versão, temos aqui um outro ensino relevante a respeito da doutrina. É a circunstância de que a doutrina vem do coração, ou seja, o que o sábio ensina é o que lhe vem do coração e, sabemos, que o princípio da sabedoria é o temor do Senhor. Por isso, o que vem do coração do sábio é o que aí foi colocado pelo próprio Espírito Santo e, portanto, temos que a doutrina nada mais é que o resultado da operação do Espírito Santo na vida de alguém. O próprio Jesus nos ensina isto ao dizer que o Espírito Santo, que Ele mandaria para ficar com os Seus servos, nos ensinaria todas as coisas e nos faria lembrar de tudo quanto Jesus, a Palavra, havia dito (Jo.14:26). Vemos, pois, que a doutrina nada mais é que o resultado do ensino do Espírito Santo, o nosso Mestre por excelência. Mais uma vez, portanto, sem qualquer fundamento quem acha que o estudo doutrinário é uma exaltação humana. Bem ao contrário, o que temos é uma demonstração de submissão do homem, de reconhecimento da soberania e supremacia divinas.

- A palavra “doutrina” reaparece na Versão Almeida Revista e Corrigida em Is.29:24, onde, mais uma vez, traduz “leqach”, sendo seguido pela Fiel e Corrigida, já que a Atualizada e a Edição Contemporânea traduzem o termo por “instrução”. No texto, é dito que os murmuradores aprenderiam doutrina quando houvesse a santificação que o profeta prometia para o povo do Senhor. A santificação e o temor a Deus fariam com que os murmuradores, ou seja, aqueles que se queixam de Deus, que se rebelam contra o Senhor, viessem a aprender “doutrina”. Vemos que a “doutrina” só é aprendida por quem se separa do pecado, por quem se submete ao Senhor, por quem prima por uma vida de comunhão com Deus. Por isso, sentimos muita preocupação ao saber que muitos crentes, na atualidade, fogem dos “cultos de doutrina”, dos “cultos de ensino”, prova de que não estão a se santificar.

- A Versão Almeida Revista e Corrigida menciona “doutrina” em Is.42:4, para traduzir, desta feita, “torah”, sendo seguida pela Versão Atualizada. Já a Edição Contemporânea e a Fiel e Corrigida preferiram traduzir o termo por “lei”, mas, como dissemos supra, o termo “torah”, embora tenha adquirido a conotação de “lei” tem como seu significado o de “instrução”, de “doutrina”.

OBS: “…Há entre muitos judeus, e também cristãos, uma noção errônea muito difundida de que a tradução exata de ‘Torah’ é ‘Lei’. Esse erro, provavelmente involuntário em sua origem, foi sem dúvida cometidos pelos tradutores judeus de Alexandria, no século III a.E.C., que prepararam a versão grega da Bíblia, denominada Septuaginta. Estimulados, provavelmente, pela predileção pela lei característica do ambiente cultural helenista, traduziram de maneira incompleta o conceito da palavra hebraica, fazendo-a aparecer como ‘Lei’. Uma vez que a versão Septuaginta das Escrituras era quase universalmente usada pelos judeus fora da Judéia e das regiões de língua aramaica do mundo greco-romano — poucos judeus ali sabiam hebraico ou mesmo aramaico (targum) — era natural que a tradução de Torah como ‘Lei’ entrasse nas obras judaicas pós-bíblicas escritas em grego ou traduzidas do hebraico para a língua grega.(…). O conceito de Torah entre os judeus, no entanto, é muito mais amplo e mais profundo do que tão somente a ‘Lei’: no seu sentido etimológico completo, ‘Torah’ também tem a conotação de ‘doutrina’, ‘instrução’ e ‘orientação’. Mesmo o exame mais superficial do Pentateuco comprova que a Torah tenta ser um inspirado guia absoluto para toda a crença e o culto, e abranger todas as ramificações da conduta individual e social. É, portanto, uma supersimplificação encarar a Torah como sendo somente ‘Lei’. A Torah também é uma crônica genealógica dos primórdios de Israel e inclui as biografias de seus ilustres antepassados e dos primeiros líderes. Além disso, é um sermão fervoroso: ensina e moraliza ininterruptamente. Exorta, incansavelmente, o israelita como indivíduo como a coletividade inteira de Israel, a esquivar-se das más ações e tomar os caminhos da verdade, da virtude, da misericórdia e da justiça, imitando os próprios atributos de Deus; a abandonar a adoração de ídolos e a encontrar Deuys vivo na prática do preceito ‘Ama teu próximo como a ti mesmo’, o qual, como disse Rabi Akiva no século II, é o princípio central da religião judaica.…” (AUSUBEL, Nathan. op.cit., p.81-2).

- Ao nos depararmos com este texto do profeta Isaías, vemos claramente que o Servo do Senhor prometido para o futuro seria alguém que traria a “doutrina” de Deus para as ilhas, isto é, até as extremidades da Terra. Neste texto, vemos que a missão de Jesus, o Messias, o Servo do Senhor, era o de levar a “doutrina” do Senhor para toda a Terra, “torah” que havia sido dada inicialmente só a Israel. Por isso, ao iniciar Sua pregação, o Senhor conclamou Seu povo ao arrependimento e a crer no Evangelho(Mc.1:14,15), o mesmo que determinou que fizéssemos depois de Sua ascensão ao céu (Mc.16:15). O “evangelho” é a “doutrina de Cristo”, é a “doutrina de Deus”. Por isso, não podemos crer em qualquer outra doutrina, em qualquer outro evangelho, ainda que seja trazido por anjos (Gl.1:8).

- Esta doutrina foi mantida pelos apóstolos e tal circunstância nos mostra, claramente, que é a doutrina que deve ser seguida pelo povo de Deus, pela Igreja. A primeira nota característica que se escreve a respeito dos salvos reunidos para fora do mundo, a partir do dia de Pentecostes, foi o fato de que “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At.2:42). Na igreja primitiva, o trabalho dos crentes outro não era senão encher Jerusalém da doutrina (At.5:28). A preocupação dos apóstolos era orar e ensinar a Palavra de Deus à igreja, ou seja, dar doutrina (At.6:2,4). Com estas informações que nos vêm do texto sagrado, temos alguma dúvida por que a igreja prosperava e a todo instante o Senhor acrescentava aqueles que haviam de se salvar (At.2:47) ? Simplesmente porque dava o primeiro lugar, em sua atividade, à doutrina!

- Esta primazia da doutrina foi sempre uma característica da igreja nos tempos apostólicos


Pr. Carlos Borges(CABB)

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