quarta-feira, 4 de julho de 2018

SOLENE ADVERTÊNCIA ÁQUELES QUE PROFESSAM A FÉ - PARTE 3


mas os falsos amigos. Que haja mil demônios fora da Igreja, antes que um só em seu seio! Não nos inquietemos com os ataques daqueles de fora, mas tenhamos cuidado, oh! Tenhamos cuidado com estes lobos vorazes que vêm até nós vestidos de cordeiro. É contra esses que os ministros da Palavra devem denunciar, com uma santa cólera, os terríveis julgamentos de Deus; é por eles que devem derramar suas mais copiosas lágrimas, porque eles são os mais perigosos inimigos da cruz de Cristo.
Mas, precisemos melhor, e indiquemos resumidamente alguns dos desagradáveis efeitos que resultam da presença dos formalistas na Igreja.
Em primeiro lugar, eles entristecem e afligem singularmente o corpo de Cristo, a assembléia dos fiéis. Eles são a causa, sem igual, dos gemidos mais dolorosos que jamais escaparam do coração dos filhos de Deus. Que um incrédulo me insulte, e me cubra de lama na rua, creio que lhe agradeceria a honraria que me fez, se eu sei que me injuria pelo nome de Cristo; mas se um que se diz cristão, faz jorrar sobre a causa de meu Mestre a sujeira de uma vida desregrada, meu coração lamentaria dentro em mim, porque eu sei que tais escândalos são mais prejudiciais ao Evangelho que as fogueiras e as torturas. Que todo o homem que odeia o Senhor Jesus me sobrecarregue de maldições, não derramarei uma única lágrima; mas quando eu vejo um de seus pretensos discípulos renegá-lo e traí-lo, como não afligirei minha alma e qual o cristão que não se afligiria comigo?
Em segundo lugar, os falsos irmãos trazem infalivelmente, como consequência, divisões na Igreja. Eu digo isto com a mais inteira persuasão. Se voltássemos à origem de nossas discórdias eclesiásticas, encontraríamos que todas, ou quase todas, deveriam ser colocadas na conta dos formalistas, que, por sua conduta inconsequente, obrigaram os cristãos vibrantes a se separarem deles. Haveria mais unidade entre nós, se os hipócritas não se infiltrassem em nosso meio; haveria mais cordialidade, mais abandono, mais amor fraternal, se esses hábeis sedutores não nos tivessem ensinado, às nossas custas, a nos mostrar reservados e cheios de suspeita. E mais, eles são sempre os primeiros a falar mal dos crentes verdadeiros, e a semear divisões entre eles. E em todo o tempo tem sido assim. O que fez a Igreja de Deus sofrer os mais graves danos jamais sofridos por ela? Não foram as tramas mortais de seus inimigos confessos? Não foram os incêndios secretamente semeados em seu próprio campo pelos homens, vestidos, é verdade, da máscara da piedade, mas que não são menos que espiões e traidores?
Notemos, além disso, que tais pessoas fazem um mal incalculável aos não convertidos. Quantos pobres pecadores, que começaram a voltar-se para Cristo, são mantidos longe dele pelos escandalosos paradoxos existentes entre a conduta e os princípios de certos cristãos! Quantas vidas, nascendo para a piedade, que vão se quebrar cada dia nessa pedra de tropeço!

E aqui, permitam-me, meus irmãos, de lhes contar um fato que confirma, de uma maneira surpreendente, a verdade a que me referi. Eu espero discernir o que há de importante e oro a Deus que lhes faça sentir também. Um jovem ministro, de passagem por uma Igreja de uma cidade, pregou um sermão que pareceu causar uma profunda impressão sobre o auditório. Um jovem em particular foi tão tocado pelas palavras graves do pregador, que resolveu ter uma entrevista com ele. Em vista disso, ele o atendeu na saída da Igreja e ofereceu-se a lhe acompanhar até sua casa. Caminho andado, o ministro lhe falou de tudo, exceto do Evangelho. Grande era a angústia do jovem. Este bem que tentou colocar ao ministro que o acompanhava, uma ou duas questões sobre a salvação de sua alma, mas o pastor lhe respondia friamente e de uma maneira evasiva, como se o assunto fosse de pouca importância. Enfim, chegaram à sua casa; várias pessoas se achavam reunidas, e logo nosso pregador travou uma conversa das mais leves, que temperou com boas palavras e piadas exageradas. Logo, encorajado, sem dúvida pelos risos de aprovação que acolheram suas primeiras pilhérias, sem perceber pronunciou palavras que poderíamos chamar quase licenciosas. Indignado, fora de si, o jovem se levantou bruscamente; saiu para o quintal da casa, e aquele que há uma hora atrás chorava ouvindo falar do Senhor, agora gritava com raiva: “A religião é uma mentira! De agora em diante eu não creio mais nem em Cristo nem em Deus. Se eu for condenado, que minha alma seja requerida desse homem, porque foi ele quem a fez se perder! Faria assim, se tivesse convencido das coisas que ensina aos outros? Não! É um vil hipócrita; e de agora em diante não quero mais escutar nem a ele, nem seu Evangelho." O infeliz cumpriu a palavra; entretanto, quando, algum tempo depois, se viu estendido sobre seu leito de morte, pediu para ver o jovem ministro. Por uma notável coincidência, este, que habitava numa paróquia distante, se encontrava naquele momento na cidade, onde Deus, sem dúvida, lhe havia trazido, afim de que lá recebesse a pena de seu pecado. Sua Bíblia à mão, entrou no quarto do moribundo e se apressou a ler e orar, quando o doente lhe fez parar e disse: "Eu lhe ouvi pregar uma vez."- lhe falou olhando fixamente. "Deus seja louvado!" – respondeu o ministro, crendo ter sido usado na conversão daquela alma. "Que eu saiba, não há motivo algum para louvar a Deus, continuou friamente o doente; você está lembrado de ter pregado aqui tal dia, sobre tal texto? - Sim, eu me lembro perfeitamente. – Bem, senhor, naquele dia eu tremi ao lhe ouvir; eu estava perdido. Eu deixei a Igreja com a intenção firme de dobrar meus joelhos diante de Deus e de procurar seu perdão em Cristo. Mas, o senhor se lembra de algumas atitudes tomadas pelo senhor naquela casa? – Não, disse o ministro. – É preciso, então, que eu ajude sua memória, meu senhor, respondeu o moribundo. Mas antes de tudo, deixe-me dizer que, por causa da sua conduta naquela noite, minha alma deverá ser condenada; e se é verdade que ainda tenho um sopro de vida, também é verdade que eu lhe acusarei diante do tribunal de Deus por ter sido a causa de minha condenação!". Tendo dito isso, o infeliz fechou os olhos e expirou.
Eu creio, meus irmãos, que lhes seria difícil de conceber o que passou no coração daquele ministro quando se afastou daquele leito de morte... Toda sua vida ele deverá arrastar atrás de si este horrível, este terrível remorso: "Há uma alma no inferno que me acusa por sua condenação!"

E um remorso como esse, eu temo, pesará um dia sobre a consciência de muitos membros de nossas Igrejas. Quantos jovens, de fato, desistiram de uma séria procura da verdade pelas censuras ásperas e amargas dos modernos fariseus!
Quantas almas sinceras se tornaram prevenidas contra a sã doutrina, pela conduta pouco edificante daqueles que fizeram profissão de aderi-la! Ah! Pior para vocês escribas e fariseus hipócritas! Porque, não somente vocês não entram no reino dos céus, mas impedem de lá entrar aqueles que gostariam de fazê-lo; vocês se apoderaram da chave do conhecimento, vocês fecharam o ferrolho da porta da salvação com duas voltas pelas suas infidelidades, e afastaram, pela sua flagrante hipocrisia, as almas que estavam dispostas a se aproximar!
Um outro efeito deplorável da conduta dos cristãos formalistas, é que ela causa uma grande alegria ao demônio e seu partido. Pouco me importa o que dizem os incrédulos em seus livros e discursos: quão hábeis sejam (certamente eles precisam ser bem hábeis para provar o absurdo e dar ao erro uma aparência de verdade), quão hábeis sejam, repito, pouco me importam seus ataques, há muito tempo que eles se apoiam sobre mentiras. Mas quando nos dirigem reprovações com base, quando as acusações que intentam contra a Igreja de Deus são fundadas, oh! Então devem ser temidos, e é também quando Satanás triunfa.
Quando um homem tem uma conduta cristã reta e íntegra, ele desarma logo a crítica; quando leva uma vida santa e irrepreensível, se cansarão logo de rir à suas custas; mas se ele manca dos dois lados, se ele age ora como cristão, ora como mundano, que não esqueça - ele leva almas para os adversários e lhes dá ocasião de blasfemar do Evangelho. Ah! Quem poderia dizer as imensas vantagens logradas pelo demônio sobre a Igreja, por causa das infidelidades daqueles que pretendem ser seus membros? “Vocês dizem e não fazem; suas vidas não estão de acordo com seus princípios” - tal é a mais temida máquina de guerra com a qual Satanás rompe as brechas das muralhas da Igreja.
Cuidado, meus caros ouvintes; velem constantemente sobre si mesmos, a fim de não desonrarem a causa que vocês fazem profissão de amar.
E aqui, me sinto pressionado a me dirigir em particular àqueles que, como eu, têm trilhado firmemente sobre a eleição da graça. Vocês sabem por que nós cremos em uma salvação puramente gratuita, por que dizemos como São Paulo: pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia (Rm 9:16)? Em outros termos, por que nos chamam de ultra-calvinistas, de antinomianos, nos olham como a escória de toda a terra, acusam nossas doutrinas de encorajar o vício e a imoralidade? Queremos realmente, meus amados, refutar vitoriosamente a calúnia? Esforcemo-nos para viver de uma maneira mais e mais digna de nossa vocação; temamos, por nossas quedas e nossas fraquezas, para não darmos ocasião aos ataques de nossos adversários; em uma palavra: tomemos cuidado para não lançarmos lama sobre estas santas verdades que nos são tão caras quanto à vida, e às quais esperamos permanecer fiéis até à morte.

Pr. Carlos Borges(CABB)

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