Cristo cumpriu a lei de forma perfeita, sendo obediente até a própria
morte. Ele tomou sobre si a maldição da lei. Ele se torna o fundamento da
justificação para o eleito.
(b) Ele não só cumpriu a lei perfeitamente, mas também interpretou a lei
de forma perfeita, permitindo aos que comprou na cruz, entendê-la de forma mais
completa, mais abrangente.
(c) Os que nele crêem agora também podem cumprir os aspectos necessários
da lei para uma vida santa. No entanto, esses que por ele são salvos não são
mais dependentes da lei para a sua salvação. Por isso há uma diferença clara
entre os que chegam ao Reino dos Céus:
alguns serão considerados maiores do que outros.
(d) Cristo, ao cumprir a lei, ab-roga a maldição da lei, mas não a sua
magisterialidade.19 A lei continua com o seu papel de ensinar
ao ser humano a vontade de Deus. A ab-rogação da maldição da lei é aquilo a que
Paulo se refere em textos como Rm 6.14 e Gl 2.16 — estamos debaixo da graça! A
lei continua no seu papel de nos ensinar,
pela obra do Espírito Santo. Não somos mais condenados pela lei nem servos da mesma. A lei, por expressar a vontade de Deus, se nos torna um prazer.
Johnson resume o material sobre Cristo e a lei no pensamento de Calvino
da seguinte forma:
O ponto principal, claro, é que Cristo cumpriu a lei em todos os
aspectos, seja no vivê-la, no submeter-se à maldição da lei para satisfazer a
sua exigência de punição dos transgressores, ou restabelecendo sobre outras
bases a possibilidade de cumprir aquilo que a lei requer. Cristo, em outras
palavras, satisfez tudo o que a lei exigiu ou pode vir a exigir da humanidade.
A justificação que estava associada à lei agora pertence completamente a
Cristo.20
Portanto, nossa obediência à lei não acontece e não pode acontecer sem
Cristo. Tentar viver debaixo da lei, sem Cristo, é submeter-se à escravidão.
Porém, obedecer à lei com Cristo é prazer e vida. Também, nesse sentido, Cristo
é o fim da lei!
Conclusão
Como fica o aparente paradoxo inicial entre a Lei e Graça? Como corrigir
essa visão distorcida? Mais uma vez creio que a visão correta da Confissão de Fé pode nos ajudar a
entendê-lo:
Este pacto da graça é freqüentemente apresentado nas Escrituras pelo
nome de Testamento, em referência à morte de Cristo, o testador, e à perdurável
herança, com tudo o que lhe pertence, legada neste pacto.
Este pacto no tempo da lei não foi administrado como no tempo do
Evangelho. Sob a lei foi administrado por promessas, profecias, sacrifícios,
pela circuncisão, pelo cordeiro pascoal e outros tipos e ordenanças dadas ao
povo judeu, prefigurando, tudo, Cristo que
havia de vir; por aquele tempo essas coisas, pela operação do Espírito Santo,
foram suficientes e eficazes para instruir e edificar os eleitos na fé do
Messias prometido, por quem tinham plena remissão dos pecados e a vida eterna:
essa dispensação chama-se o Velho Testamento.
Sob o Evangelho, quando foi manifestado Cristo, a substância, as
ordenanças pelas quais este pacto é dispensado são a pregação da palavra e a
administração dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor; por estas
ordenanças, posto que poucas em número e administradas com maior simplicidade e
menor glória externa, o pacto é manifestado com maior plenitude, evidência e
eficácia espiritual, a todas as nações, aos judeus bem como aos gentios. É
chamado o Novo Testamento. Não há, pois, dois pactos de graça diferentes em
substância mas um e o mesmo sob várias dispensações (CFW 7.4–6).
Portanto, ao relacionarmos lei e graça devemos nos lembrar dos diversos
aspectos e nuanças que estão envolvidos nesses termos.
Primeiramente, encontramos tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, a
graça de Deus. Ele não reserva a sua graça somente para o período do Novo
Testamento como muitos pensam. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento
podemos ver Deus agindo graciosamente, salvando aqueles que crêem na promessa
do Redentor. Assim Abel, Enoque, Noé, Abraão e todos os santos do Antigo
Testamento foram remidos. Nenhum deles foi salvo por obediência à Lei, ainda
que o Senhor requeresse deles, assim como requer de nós, que sejamos
obedientes.
Em segundo lugar, a lei opera para vida ou morte no pacto das obras e
somente para a morte no pacto da graça. No pacto das obras, por mérito, o homem
poderia continuar vivo e merecer a “árvore da vida.” Portanto, pela obediência
o homem viveria. No pacto da graça a lei opera para condenação do homem caído.
Porque o homem já está condenado, ele não pode mais cumprir a lei e ela lhe
serve para a morte.
Por último, o crente se beneficia da lei estando debaixo da obra
redentora de Cristo. O mérito de Cristo, sendo obediente à lei até as últimas
conseqüências, compra-nos o benefício da salvação e a graça de conhecermos a
vontade de Deus pela sua lei. O único modo de o ser humano ser salvo é submeter-se
totalmente àquele que, por mérito, compra-lhe a salvação. Ainda aqui o homem é
beneficiado pela Lei. Cristo a cumpre e declara justificado aquele por quem ele
morre.
Portanto, o nosso gráfico do início deveria ser modificado para refletir
a verdade bíblica sobre a Lei e a Graça de Deus:
Disp. do Antigo Testamento
------------------ Disp. do Novo
Testamento
|
|
Obras
|
Graça – obras como fruto da fé
|
Lei
|
Evangelho – obediência à lei como conseqüência
|
Lei –justifica na
obediência |
Lei – condena o não eleito
Usus Theologicus |
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e
aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me
manifestarei a ele” (João 14.21).
Pr. Carlos Borges(CABB)
Nenhum comentário:
Postar um comentário