tormentos mais intoleráveis, certamente serão a experiência daqueles
cuja profissão de fé não tem sido mais que uma indigna mentira!
Na verdade, de minha parte, preferiria morrer pecador abominável, que cristão
hipócrita. Oh! Que terrível despertar de uma alma que, depois de ter tido a
experiência de viver neste mundo, ser jogada com os mentirosos no outro; aquele
que, depois de ser elevado até os céus aqui debaixo, se vê rebaixado até o
inferno na eternidade! E quanto mais o formalista se deixe seduzir, mais
terrível será sua desilusão. Ele havia pensado ter levado a seus lábios a taça
cheia das delícias do paraíso, e no lugar disso, se vê condenado a beber até a
borra da bebida do inferno! Ele contava entrar sem dificuldade pelas portas da
Nova Jerusalém, e eis que as encontra fechadas!
Ele imaginava que para ser admitido na sala de núpcias, bastaria
gritar: Senhor, Senhor, e em vez disso ouve ser pronunciado contra ele,
não simplesmente a maldição geral dirigida à massa de pecadores, mas esta
sentença, mil vezes mais terrível e amarga, porque ela é mais direta e pessoal:
“Retira-te de mim, eu jamais te conheci! Ainda que tu tenhas comido e bebido em
minha presença, ainda que tenhas entrado em meu santuário, tu és um estrangeiro
para mim e eu o sou para ti!” Meus irmãos, um tal destino, mais lúgubre que o
sepulcro, mais horrível que o inferno, mais desesperador que o desespero, tal
destino será, inevitavelmente, a experiência desses pretensos cristãos cujo Deus
é o ventre, que põem sua glória naquilo que é enganoso, e que colocam seu
coração nas coisas da terra.
E agora, permitam-me, antes de terminar, responder a diversos
pensamentos que podem ilustrar o que vocês acabaram de ouvir. Se não estou
errado, alguns dentre vocês estão dizendo neste momento: “Eis aí um pregador
que não poupa as Igrejas; e ele tem razão. Ele nos faz ouvir duras verdades.
Quanto a mim, divido com ele o mesmo ponto de vista: essa gente que faz
profissão de fé e que tem aparência de santo, é gente hipócrita e impostora. Eu
sempre achei que não há um que seja sincero.” Espera aí, meu amigo. A Deus não
agradaria se eu tivesse dito algo parecido com o que você disse aí! Eu seria
muito culpado se tivesse feito. Há mais: eu sustento que o fato de existir
hipócritas é uma prova irrefutável que existem também cristãos sinceros.
“Como é isso?” Você me pergunta. É bem simples, meu querido ouvinte.
Você creria que há dinheiro falso no mundo, se não houvesse a moeda verdadeira?
Você acha que se poria a falsa em circulação, se não houvesse a de boa
qualidade?
Evidentemente, não. A falsificação pressupõe, necessariamente, a
existência da coisa falsificada. Se não existisse piedade verdadeira, também
não existiria a falsa. Assim, como é o valor da moeda que faz com que o
falsário a reproduza, também é a excelência do caráter cristão que dá a ideia a
certas pessoas de o imitar. Não tendo a realidade, eles querem ao menos a
aparência; não sendo de ouro puro, eles se revestem para dar uma aparência de que
são. Eu lhes digo de novo, e o mais simples bom senso basta para que
compreendam: porque há falsos cristãos, deve haver necessariamente os
verdadeiros.
“Bem falado!” Pensa talvez um outro de meus ouvintes; “sim, graças a
Deus, existem os sinceros e verdadeiros cristãos, e tenho a felicidade de ser
um deles. Nunca tive dúvida nem medo em relação a isso; eu sei que sou um
eleito de Deus, e ainda que, é verdade, eu não me conduza sempre como poderia
desejar, ouso dizer que se eu não vou para o céu, poucos irão.
Assim, pregador do Evangelho, dê suas advertências a outro! Há mais de
vinte anos sou membro da Igreja; há mais de dez anos tenho a honra de
assentar-me no Conselho de presbíteros; eu gozo da consideração de meus irmãos;
nada poderia abalar minha confiança. Quanto a meu vizinho, que seja; isso é
outra coisa. Creio que fará bem em assegurar-se da realidade de sua conversão;
mas, ainda uma vez, no que me diz respeito, tudo está bem; eu estou tranquilo.”
Ah! Meu querido ouvinte, você me perdoaria se lhe dissesse que seu
excesso de segurança me inspira as mais graves inquietações? Se você nunca teve
medo sobre a qualidade de sua piedade, eu que começo a tê-lo; se você alguma
vez não duvida de você mesmo, eu só posso tremer; Por que? Lhe direi: eu tenho
observado que todos os filhos de Deus têm uma extrema desconfiança a respeito
deles mesmos; e que eles temem ser iludidos mais do que qualquer outra coisa.
Nunca encontrei um verdadeiro crente que estivesse contente com seu estado
espiritual. Portanto, depois que você se declarou tão particularmente
satisfeito com seu estado, me desculpe, mas não posso, em verdade, apor minha
assinatura sobre o certificado de piedade que você se deu. Pode ser que você
seja muito bom; entretanto, suporte o meu conselho de examinar-se para ver se
você está na fé; por medo que, estando inflado em seu senso carnal, você não
caia nas armadilhas do maligno.
Nunca seguro demais, é uma divisa que convém perfeitamente ao cristão.
Observe-se, tanto quanto possível, a confirmar sua vocação e sua
eleição; mas, jamais tenha uma opinião muito alta a respeito de si mesmo;
guarde-se da presunção. Quantos homens excelentes a seus próprios olhos, que
são demônios aos olhos de Deus! Quantas almas muito piedosas na opinião da
Igreja, que não são mais que nódoas diante do Santo dos santos! Que cada um de
nós prove a si mesmo, e digamos como o Salmista: Ó, Forte Deus! Sonda-me e
conhece o meu coração; vê se há em mim algum mau caminho e conduza-me pelo
caminho eterno (Sl 139:24).
Meus amados, se as advertências que acabamos de ouvir, tiverem como
resultado fazer nascer em vocês pensamentos tais, que lhes inspirem a uma
oração como a do salmista, eu louvarei a Deus do fundo de minha alma por ter-me
permitido lhas dirigir.
Enfim, há certamente aqui alguns desses espíritos levianos e
despreocupados, aos quais pouco importa, dizem eles, pertencer ou não a Cristo.
Eles esperam viver como no passado, esquecidos de Deus, indiferentes às suas
ameaças e desprezando o seu nome. Insensatos e cegos! O dia virá, saiba você,
quando seu riso se tornará em choro, quando você sentirá a necessidade desta
religião que hoje você desdenha! A bordo do navio da vida, navegando sobre um
mar calmo, você agora zomba do barco de salvação; mas espere a tormenta, e você
quererá embarcar no barco a qualquer preço. Agora você não faz nenhum caso do
Salvador, porque lhe parece que você não tem nenhuma necessidade dele; mas
quando a morte lhe pegar, quando vier a tempestade da cólera divina, -
(observem bem isto, ó pecadores!) – você que agora não quer clamar por Cristo,
você chama por Ele! Você que agora se recusa a chamá-lo, o perseguirá,
então, com o seu grito de desespero! Seu coração que agora não prova nenhum
desejo de o possuir, clamará após ele, em uma inexprimível angústia.
Voltai, voltai! Convertei-vos; por que morreríeis, ó casa de Israel.
Oh! Queira o Senhor vos levar a ele, e fazer de vós seus sinceros e
verdadeiros filhos, de sorte que vosso fim não seja a perdição, mas que sejais
salvos desde agora e por toda a eternidade.
NA ESCOLA CONVENCIONAL, ESTUDAMOS A LIÇÃO E FAZEMOS A PROVA.
NA ESCOLA DE CRISTO, FAZEMOS A PROVA E APRENDEMOS A LIÇÃO.
Pr. Carlos Borges(CABB)
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